Seria a última vez. As crises de consciência não o deixavam dormir.
Seria a última vez naquela mesma cama, no sempre mesmo quarto, no mesmo sempre sujo desejo...
Ontem acordou e olhou sua filha. Treze anos. E pela primeira vez na vida, o desejo por ela nasceu dentro dele. Se horrorizou. Mas ainda assim ficou ali por uns quinze minutos. Até que a luz do dia irrompeu o ar, tornando perigosa sua movimentação incessante. Esvaziou seu corpo. Sua alma foi junto.
Naquele momento soube que teria que parar com tudo aquilo. Parar com as tardes furtivas, com o segundo andar escondido entre os becos, com os presentes cor-de-rosa e os duzentos reais a cada semana. Parar definitivamente com o medo de ser pêgo, o medo da justiça dos homens e da justiça de Deus. Esta seria a última vez, jurou a si mesmo.
Subiu as escadas. Seu pau a ponto de estourar. Podia quase sentir o cheiro de pele e suor. Cheiro de juventude, de inocência. Cheiro de infância.
Abriu a porta. No contraluz, não distinguia rosto ou cor. Viu apenas a silhueta recortada... e ouviu o suspiro da menina deitada na cama. Fechou a porta e apagou a luz. Escuridão total. Assim a última não teria um rosto, mas sim o rosto de todas as que ali havia encontrado.
Já nu, encostou suas mãos no corpo trêmulo. Ao seu toque, ela desfaleceu. Desesperado, acendeu a luz.
Sem sentidos, sua filha se estendia entre os lençóis vagabundos.
*
Pra Carol.
sábado, 15 de setembro de 2007
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4 comentários:
intenso.
como certas coisas parecem ser ( e são)
Cara! Como isso tudo é muito tabu eu me sinto obrigado a louvar tuas palavras,,, perceber certa reflexão à cerca de nossa existência áspera e pouco humana,,,
Gostei daqui pela polêmica... Adoro polêmicas, rs
Abraços e sociais invenções!
Realmente, você gosta de mexer em assuntos delicados. Gostei do que você escreveu, porque tratou de algo que causa repulsa, mas que, no fim, teve algo mais.
Posso voltar mais vezes?
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