A situação era insustentável!
Ao meu lado, o suor do preto já havia formado uma poça no chão. Suor ruim. Misturava-se à terra, desenhando na lama o meu destino.
Na sua mão, o revólver tremia. Esses eram os que me metiam medo. Os que tremem. Amadores. Não têm controle de seus próprios nervos. Não têm controle de si mesmos. Imprevisíveis.
Eu podia sentir o tremor do revólver na minha têmpora direita. Droga. Aquele era meu lado ruim. Canhoto.
Na cadeira à minha frente, o loiro sorria um sorriso chapado. Mal conseguia se manter acordado. Amadores.
Pesei bem a situação. Eu conseguiria derrubar o loiro azedo com um chute na boca, desfazendo aquele sorriso insuportável. Mas a bala que se encontrava dentro da arma do preto me estouraria os miolos. Não gostei da idéia.
Eu poderia ainda tentar desarmar o preto antes que a mão trêmula disparasse o gatilho. Mas o filhadaputa do loiro estava com a mão dentro do blusão de couro. E eu não tinha a menor idéia do que havia lá dentro.
De qualquer forma, eu morreria se não fizesse nada. E eu não quero morrer. Disso tenho certeza. Não que eu não mereça. Se alguém por aqui merece morrer, esse sou eu. Meu menor pecado é assassinato. O maior? Não queira saber.
Num golpe rápido e preciso, me abaixei enquanto minha mão esquerda se dirigia ao estômago do preto. A arma disparou. Um segundo depois do necessário. Amadores.
Quando o estampido chegou aos meus ouvidos, meu punho já havia atingido o alvo. Senti alguma coisa se rompendo lá dentro. Meu pai sempre me falava que meu soco era poderoso. Verdade.
Nem precisei de outro golpe. O preto caiu sobre seu suor no chão e ali mesmo ficou.
Quando me recompus, o loiro já estava em pé. Seu sorriso tinha desaparecido do rosto. Isso me fez feliz. Mas minha felicidade não durou muito. Me lembrei da mão dentro do blusão.
Bem... morto eu já estava. Estou morto desde que nasci. Condenado por um tribunal divino. Minha pena foi nascer no inferno. Morto não tem medo.
Disse a ele: se for me matar, mata logo, desgraçado. senão vai morrer no meu lugar!
Ele tirou a mão de dentro do blusão. Um canivete. Amadores.
Antes de me movimentar, já pude sentir o cheiro da morte do desgraçado...
quarta-feira, 30 de maio de 2007
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6 comentários:
Você lê Rubem Fonseca? Lembrou um pouco, ou melhor, bastante. Muito bom seu texto, o narrador não parece estar sentindo muito a situação em que está, uma frieza. Gosto de ler essas histórias. Até mais.
A narrativa de uma perspectiva diferente, fugindo do lugar-comum que é o refém sentir-se acuado na situação. Parabéns
Abraços
Antônio Alves
O gato malandro, saltou bonito de dentro do balaio da lei do impasse. O bicho pegou, mas não comeu. AbraçoDasGerais.
Nossa, quanta força... e um texto pesado. Tenho que admitir a qualidade. Ótima narrativa, meu caro homem-prosa! ;-)
Bjos meus.
Esseu já conhecia. Um dos meus prediletos.
Abraços!
eu quero ler mais!
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