sábado, 22 de setembro de 2007

Conto Navegação-Labirinto

moacircaetano & czarina

Capítulo 1

Capítulo 2

3.

Não ouvia o que ele dizia. Apenas via o matraquear, o abre-fecha daquela boca malcheirosa, os respingos de saliva viajando até alcançarem o tampo de vidro. Uma névoa me cobria os ouvidos, impedindo-me de entender ao menos uma simples palavra.
Enquanto ele falava, eu só conseguia ouvir os gemidos da vagabunda da Suzana. Só podia ouvir o barulho molhado do meu pau se enfiando em cada orifício daquela vadia.
Tentei deixá-la dezenas de vezes, mas era impossível. Eu era viciado naquele cheiro. O mesmo cheiro que invadiu minhas narinas enquanto o idiota vociferava o mais alto possível, de forma que seus berros ultrapassassem a fina camada de divisória que nos separava do restante do escritório. Olhos curiosos e sádicos perfuravam minhas costas.
Saí do transe em que me encontrava a tempo de ouvir a frase final: “Hoje você vai ficar até mais tarde consertando a cagada que você fez, seu merda!”.
Saí no corredor e, como era usual, todos fingiam que nada havia acontecido. Parei na copa de novo. Fodido; fodido e meio! Bebi mais um pouquinho do café de Dona Isidora. O gosto de sangue em minha boca desapareceu por alguns segundos, mas logo voltou.
Sentei-me em meu cubículo. Um email da vagabunda: “Quero que você me coma na cama do César hoje. O corno me ligou e disse que vai ficar até tarde vigiando um merdinha qualquer no escritório”.
Imediatamente peguei meu casaco sem me despedir de ninguém e saí rua afora.
Virando a rua, entrei na padaria Pão D’ouro, ruim, mas com ótimos preços, o que justifica o apelido aqui no bairro, Pão D’uro. Sentei no balcão, tirei os óculos escuros e pedi uma média e um queijo quente. Foi só quando o lanche chegou que me ocorreu que não estava com fome. Lembrei do pedaço de pizza que comi antes de sair. A pizza do dia anterior, pedida com destino certo: ser devorada durante o filme de ação que seria exibido no Tela Quente.
Mal comera o primeiro pedaço, o telefone tocou.


Epílogo

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá Moacir Caetano,,, vou de confessas logo de cara, rs: não li os outros capítulos, conta paga pelo tempo e a dor... mas do que li veio cheio da sua escrita livre,,, gosto do Jorge Amado sempre que aparece por ae... rs

Abraços e completas invenções!

Unknown disse...

Agradeço os parabéns. xD

E muito boa a proposta desse texto, o conto esparramado e tudo. Estou lendo aos poucos...

Anônimo disse...

É sempre interessante vir aqui... Eu sempre me surpreendo. Li apenas este capítulo (por enquanto), mas gostei muito. Vai virar livro?
Beijinhos.

Arquivo do blog