No RH:
"Moço, tem vaga hoje"?
"Senhor, ainda não. Assim que tivermos uma vaga, eu ligo no número que o senhor deixou no currículo".
Dia seguinte:
"Moço, a vaga apareceu"?
"Ainda não. Já disse que a gente avisa quando aparecer".
Todo dia, durante quinze dias ininterruptos:
"Moço, e a vaga"?
A mesma calça de brim surrada, o mesmo chapéu, a mesma camisa branca puída.
"O senhor sabe, tenho mulher e filho, a coisa tá preta. Tenho vergonha de acordar e olhar pra cara dos dois, sem saber se vai ter comida pro dia inteiro".
Cinquenta e poucos anos, mais da metade da vida vivida e nenhuma perspectiva.
Quatorze dias depois, aparece a vaga.
"Alô"... "É a mulher dele, a Joaquina"... "É da construtora? Meu vééééééiiiiiiiii, corre, hômi de Deus, pelo amor de Nossa Senhora, é da construtora"!
"Sim, meu filho, nossa-senhora-viiirgem-santíssima-quero-sim-tô-indo-praí-agora-segura-essa-vaga-pra-mim-hômi-de-Deus"!
Cinco minutos depois, ele aparece, todo esbaforido, de bicicleta emprestada e documentação completa na mão.
"Meu filho, é Deus quem mandou vocês pra estas bandas, Deus te guarde"!
Quatrocentos e quarenta reais por mês.
sábado, 19 de julho de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
6 comentários:
Quanto de tristeza e humilhação pode alguém suportar?
Insuportável realidade sempre pior, sempre.
Construímos o mundo e destruímos a humanidade.
beijos
Assisti palestra recente que dizia sobre a crônica estar osmóticamente conectada com o jornalismo. Pra falar a verdade acredito que usando a linguagem poética intrínseca na crônica seria pouco provável a leitura massificada.
Digo isso pra aplaudir a experiência aqui,,, que me pareceu muito jornalística. Gostei!
Abraços e sociais invenções!
grata por sua nobre visita!
faça sempre assim!
gostei de seu espaço também!
uma realidade dificil...
bom que o homem foi persistente :)
ê vida dura...
:(
Dói. Mas tem verdade ainda pior. Beijos
Postar um comentário