quarta-feira, 16 de maio de 2007

Enseñanza

Formigas.
Carregam sua carga pra lá e pra cá, sem perguntar a ninguém o porquê. Topam uma com a outra, dão só um beijinho de esquimó e seguem em frente. Não têm tempo pra crises existenciais, mal-entendidos e frustrações. Se guiam pelo cheiro deixado pelas que vieram antes delas. Possuem um cronômetro interno que marca o tempo com precisão de relógio atômico.
Vivem aos milhares, e não dormem nunca. Vivem a vida para sua rainha. Não sabem o que é ser feliz, mas também não sabem o que é ser infeliz.
Vivem em selvas, em relvas, em bosques, mas são capazes de se instalar em paredes de concreto, pisos cerâmicos e asfalto. Não morrem nunca, pois não são uma. São uma coletividade. Um grande organismo onde uma pequena célula morta é rapidamente substituída. Formigas são infinitas.
Ontem uma olhou pra mim e não entendeu o que é ser triste. Tentei explicar, mas ela me olhava com seus olhos inexpressivos, e nada dizia. Ao fim de trinta segundos, me abandonou. Já tinha perdido tempo demais com coisas minúsculas. Minúsculo, o ser humano; encarcerado em seu próprio corpo.
Tentei seguí-la, mas ela se enfiou em uma fissura do piso.
Levantei-me e tomei o rumo de casa. No céu, o dia - covarde - fugia da noite.




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9 comentários:

Mariana Santos disse...

Será que a inobservância de uma formiga deriva justamente desse caráter coletivo e comum?

Pensemos se ela fosse única (com diversos tons, ou emitisse algum ruído encantador). Seria ela continuamente pisada?

Passo todos os dias pelos mais diversos tipos de rostos e não lembro de nenhum.

É.. não há como explicar.

Lubi disse...

Ai, ai. De repente, uma vontade de ser formiga.

Você, deixando ausência com saudade.

Beijo.

Paula Negrão disse...

É, tem coisas realmente dificeis de explicar..


beijos

Késia Maximiano disse...

Belo texto...
Ahhh as formigas...

principesca disse...

Enseñanza: Nesse texto me senti como uma formiga percorrendo as linhas, e como se tivesse uma me percorrendo a alma. Muito, muito bom. Com uma simplicidade você dá um tapa na cara de toda a humanidade.
Liberdade: Texto perfeito, como que pode, a gente mal entra no universo desse personagem, fica uns 2 minutos nele, e já se identifica e se entranha tanto nele? E parece seguir sua alma? Muito, muito, muito bom.

Bebel disse...

Viagei na analogia....rsrsrrss
Bjus!!!!

Antonio Junior disse...

Existem muitos homens que se equiparam a formigas. Agora, será que o homem é uma formiga ou a formiga é um homem? Gostei muito de seus textos. Adicionei-te ao meu blog.

Um forte abraço!

Antônio Alves

Skin on Skin disse...

Beijinho de esquimó...deixo-te aqui tantos quantas formigas vires hoje! ;))

Beijokas on skin

diovvani mendonça disse...

rsrs - Nossa compreensão está enjaulada na carne. Até onde alcança nosso raciocínio - formigas não são mesmo, felizes ou infelizes. Sei lá, vai saber... Talvez, elas, com esse negócio de coletividade já tenham alcançado o nirvana do equilíbrio. Onde, suponho, as coisas simplesmente são. A própria Terra é um cisco, dentro da nossa galáxia - imagina, diante do universo. Acho que somos, meros ciscadores de miudezas e não sabemos "nadica" do mistério no qual estamos envolvidos. De onde vimos, pra onde vamos e o que estamos fazendo aqui. Neste tripé, estão todas as especulações filosóficas e humanas.
Ops! deixa eu parar, do contrário, acabo escorregando, nesta minha viagem na maionese. Desculpe, sempre muito bons, seus escritos. AbraçoDasMontanhas.

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