Sabe essa foto, doutor? Sou eu na minha adolescência. Quando eu tinha 17 anos na longínqua cidade de Butantã da Serra, no Maranhão. Eu comia calango e bebia água do açude. Tempos difíceis aqueles.
Esse terno que eu estou vestindo na foto custou o olho direito da minha irmã mais nova, Jurelina. Hoje, com nossa situação melhor, comprei um olho de vidro pra ela. Ficou bonita a bichinha, arrumou até marido depois do olho novo.
Mas valeu a pena o sacrifíco, tenho até hoje o terno, que uso em ocasiões especiais. Usei mesmo anteontem, no enterro do meu primo Teobaldo, Deus o tenha. Famoso e querido Teobaldo, também conhecido como Come-Piolho. Cabra bom aquele. Comia os piolhos dele e os meus, isso é que era amigo.
Uma certa vez Teobaldo se encontrou com Jurelina e se encantou, visse? Olho no olho (ele era cego do olho direito e ela só tinha o esquerdo). Mão na mão. Quase que vira coisa na coisa. Mas antes disso chegou meu pai e meteu o pé no peito do sem-vergonha. Teobaldo quase morreu sem fôlego. Tempo bom aquele.
Hoje vivo vida de rei. DVD, microondas e TV 29 polegadas. Um Monza 91. E uma mulher muito da ajeitada. Mas sempre que eu olho essa foto, seu doutor, me dá vontade de chorar. Porque dentro de mim ainda mora aquele molequinho cabeçudo das pernas finas da Rua Paraíso em Butantã da Serra.
Agora pode arrancar o siso, doutor. A bochecha já tá dormente.
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
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3 comentários:
Olá! Gostei muito do texto. Parabéns, muito bem escrito mesmo.
Até mais!
Caramba! To impressionado (e olha que eu já passo aqui desde outros carnavais). É difícil usar uma linguagem regional com tanta naturalidade.
Ficou bastante bom. Parabéns! ;)
Poxa, você é demais e eu sou sua fã.
Faz tempo que passo por aqui, mas realmente esse texto ficou lindo.
Como disse o Rafael muito difícil usar desta linguagem com naturalidade. Parabéns! :D
ps: tenho até seu blog nos favoritos do meu pc
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