terça-feira, 6 de maio de 2008

Melancolia

Vista da janela do avião, a cidade não se parecia com a miríade de ruas e carros e pessoas a que estava acostumado. Sua superfície estendia-se perpendicularmente à estrada, como um rasgo no tecido verde da terra.
Algumas poucas nuvens alojaram-se confortavelmente em algum ponto entre seu olhar e as árvores lá embaixo. Pessoas não as viu, não o permitia a distância entre a barriga do aeroplano e as cabeças dos homenzitos no solo. Carros pôde identificar um ou outro, apressados pontos percorrendo retas e curvas no sentido longitudinal do mapa impresso no chão.
Não era exatamente grande sua cidade. Alguns poucos mil habitantes. Menos um agora. Não que fizesse diferença. O que é um em vinte mil? Mesmo que vinte mil seja pouco pra uma cidade, e o apenas um seja muito pra quem se vê obrigado a carregar a si mesmo desde o dia em que nasceu.
Agora tudo era apenas nuvens e céu, e seu olhar se perdeu no horizonte. Talvez voltasse, talvez não. Só não queria essas lágrimas que teimavam em surgir.

7 comentários:

Anônimo disse...

um conto essencial, em narrativa repleta de desnsidade, e, sim, de grande melancolia. gostei imenso do texto enxuto e direto e, repito, cheio de entrelinhas. garnde abraço.

Anônimo disse...

de papo rápido pra perceber o vôo que deixa qualquer um com saudade,,, o vôo e seu propósito,,, a distância e sua essência... Bom ler, Moacir, o Caetano!

Abraços e aéreas invenções!

Camilinha disse...

"Mesmo que vinte mil seja pouco pra uma cidade, e o apenas um seja muito pra quem se vê obrigado a carregar a si mesmo desde o dia em que nasceu."

... é assim, não é?! ver a imensidão de tudo e comparar com a imensidão dentro da gente... incrível!

beijos daqui...

Jacinta Dantas disse...

Vi um comentário seu no Fernando Rozano e chego aqui. Vejo-me melancola em cada linha desse bonito e intenso texto. Às vezes a existência é um tanto carregada, mas à nuvem é concedido o direito de chorar e voltar a ser leve.
Um abraço

Unknown disse...

Excelente.

Ju disse...

várias vezes passo por esse sentimento quando contemplo a cidade. tanta vida junta e tanta solidão... beijos, belo texto!

Adriádene disse...

Que tocante, amigo!!! Beijos

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