quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ai

O ai é engraçado...
Curto, cortante, rasgando o ar!
Quando vem sozinho, já se sabe: é dor curta, coisa pouca... ferrão de abelha, picada de agulha, topada de dedo em pedra pontuda. Quase sempre vem depois um palavrão.
Em dupla, dito de forma meio suspirada, denota dorzinhas inocentes: alguém que não apareceu, uma carta que não veio, uma saudadezinha-bicho-do-pé.
Em trio, significa irritação, impaciência. Sinal fechado, leite derramado, fila que não anda.
Às vezes são ditos repetidamente. Dedo preso na porta, choque em tomada, pele em coisa quente. Costuma parar logo que cessa a causa.
Mas o ai é um bichinho covarde. Ele some quando a dor é grande.
As dores maiores, as dores de verdade, aquelas que abalam vagarosamente o coração e a mente, essas são quase sempre silenciosas. Dores de amor, de morte, de doença crônica não têm ais!
Elas apenas dóem, doídas, caladas. E não acabam nunca.
A única companhia que conseguem são as lágrimas mudas e resignadas.

5 comentários:

Anônimo disse...

As grandes dores impõem solidão sem fim, por isso são mudas.

beijos

Anônimo disse...

texto com narrativa e linguagem essenciais, ricos e com muita reflexão. meu abraço fraterno.

Márcia Engel disse...

É engraçado ver como uma palavrinha tão curta pode significar tantas coisas. E as dores que não têm "ais" para expressá-las são totalmente silenciosas, porque onde não cabe um ai, outras palavras também não se encaixam.

Beijo, adorei o blog.

Anônimo disse...

de ai's,,, asas psicóticas dos sentidos sentidos em demasia,,, vich!
Vâmo gritáááá! rs

Abraços e constatadas invenções!

Adriádene disse...

Menino, nunca tinha pensado nisso, mas é verdade!! Tinha que ser você pra nos fazer ver isso, e de forma tão linda! Beijos

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